quarta-feira, 20 de junho de 2007

Cyberbullying vem crescedo



Recentemente o tema do bullying ou da violência nas escolas tem recolhido a atenção dos meios de comunicação social portugueses. Enquanto Portugal desperta para este tema, noutros quadrantes a preocupação crescente é com o cyberbullying, tema que já aqui aflorei em artigos anteriores e a que hoje regresso.

O cyberbullying foi um tema que já aqui abordei em 2003 através do artigo "Que a Força Esteja Contigo, Star Wars Kid!", em 2004 no artigo "Valentões, Fanfarrões e Rufiões" e em 2005 no artigo "Happy Slapping, Mais Que Uma Nova Forma de Cyberbulling. É ainda um tema que vou tocando pontualmente através de histórias que conto noutros artigos e é tópico obrigatório nas acções de sensibilização sobre a segurança online de crianças e jovens em que participo como orador ou formador. Esta semana, o tema foi notícia em vários órgãos de comunicação social a propósito de um estudo sobre o Ciber Abuso de Crianças e Jovens, financiado pela Bell Canadá e desenvolvido pela Faculdade de Trabalho Social da Universidade de Toronto. Em Portugal, no entanto, apenas o Diário Digital lhe fez referência. Não admira assim que o tema continue a ser largamente ignorado em Portugal, razão pela qual ser este um excelente pretexto para voltar ao tema.

TIC: Novo Veículo Para a Intimidação
Segundo a Professora Faye Mishna, uma das investigadoras principais responsáveis pelo estudo, "com mais crianças e jovens a usarem a Internet, correio electrónico, SMS, sites de redes sociais e webcams, assistimos a mais casos de bullying através destes meios tecnológicos". Esta não é uma novidade. Nem mesmo em Portugal, onde já em 2003 o Correio da Manhã noticiou um caso que cobriu com um nível de detalhe que já na altura me pareceu excessivo. Novidade é facto da especialista vir confirmar algo que eu também me tenho vindo a aperceber através de emails que me chegam dos leitores, pedidos de auxílio de pais e até de jovens, notícias na comunicação social e testemunhos pessoais: o facto deste fenómeno se estar a tornar cada vez mais corrente.

Como Detectar o Cyberbullying
Segundo os investigadores, para detectar casos de cyberbullying, pais e educadores devem estar atentos a alterações no comportamento ou na personalidade das crianças ou jovens, nomeadamente quando estes:

* Se tornam afastados, agitados, ansiosos, tristes ou deprimidos;
* Expressam raiva, gritando ou vitimizando outras crianças/jovens (tal como um irmão ou irmã mais novos);
* Se queixam fisicamente de dificuldades em adormecer, dores de cabeça ou de barriga ou quando se verifica a alteração de hábitos alimentares;
* Perdem o interesse em eventos sociais;
* Demonstram relutância em frequentar a escola quando antes tal nunca se verificara ser problema;
* Revelam alterações na utilização da Internet ou de outras tecnologias.

Como Fazer Frente ao Cyberbullying
A Prof. Faye Mishna deixa ainda sugestões sobre como os pais e educadores podem debater o assunto com as crianças e jovens a seu cargo e fazer face ao cyberbullying. Estas incluem:

* Criar e manter um clima de comunicação aberta e conversas regulares sobre a Internet e as tecnologias, em vez de esperarem e apenas abordar o assunto quando ocorrer algum problema;
* Encorajar as crianças/jovens a falar sobre os problemas com que se confrontam na Internet ou com outras tecnologias, como por exemplo os telemóveis e escutarem o que as crianças/jovens nos dizem;
* Explicar às crianças e aos jovens que se forem vítimas de cyberbullying a culpa não é deles;
* Sublinhar que pedir ajuda não é um sinal de fraqueza, mas uma forma de afirmação que envia uma mensagem ao agressor que o seu tipo de comportamento não será tolerado e que não lhe será permitido continuar.

Como Prevenir o Cyberbullying
Segundo os investigadores, a melhor forma de prevenir o cyberbullying consiste na adopção das seguintes sugestões:

* Eduque-se a si e aos seus filhos ou educandos sobre como usar as tecnologias de informação e comunicação de forma ética, responsável e segura;
* Eduque as crianças/jovens sobre os riscos de colocarem fotografias, vídeos e outros dados pessoais online que possam ser usados pelos seus pares para actos de cyberbullying;
* Preste atenção aos que os seus filhos ou educandos lhe dizem sobre potenciais casos de cyberbullying e não se limite a subestimar, criar falsos sentimentos de segurança ou até ignorar as situações que lhe são reportadas (por exemplo, "limita-te a ignorar", "não leves isso a sério", etc.);
* Não reaja intempestivamente para proteger a criança/jovem. Por exemplo, não se ajuda uma vítima castigando-a. Se a criança é vítima de cyberbullying, não lhe retire o direito de acesso ao computador ou à Internet;
* Caso os seus filhos ou educandos seja vítimas de cyberbullying, deixe claro que trabalhará com a criança/jovem para encontrar uma solução;
* Monitorize a utilização das tecnologias de informação e comunicação pelas crianças e jovens a seu cargo. Faça-o escolhendo criteriosamente o local e o posicionamento do computador. Evite as áreas isoladas (quartos de crianças/jovens), preferindo os espaços de maior circulação de pessoas. Poderá ainda adoptar programas de controlo parental e procurar informar-se sobre outros locais a partir dos quais os miúdos acedam à Internet.

A terminar e sem querer dar lições a ninguém - que também eu me debato com dúvidas sobre o tipo de cobertura dar a alguns casos - com este artigo pretendi cobrir aquilo que invariavelmente falta nas notícias sobre casos de cyberbullying e de casos ao nível da segurança online de crianças e jovens: as dicas no domínio da prevenção e sobre o que pais e educadores podem ou devem fazer quando confrontados com esses casos. É que se é verdade que este tipo de casos merecem ser notícia, não é menos verdade que são também excelentes oportunidades para promoverem a utilização ética, responsável e segura das tecnologias de informação por crianças e jovens.